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Planeta em crise: principais conclusões do relatório IPCC sobre a crise climática


Foto: USGS


O relatório desta segunda-feira (9) do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês), das Nações Unidas, é o mais abrangente e conclusivo documento sobre a crise climática e levanta questões importantes como, por exemplo: por que está acontecendo, como está afetando todas as regiões do planeta, quanto pior as coisas podem ficar e o que deve ser feito para evitar as piores consequências.


O secretário-geral da ONU, António Guterres, classificou o relatório como "um código vermelho para a humanidade", observando que "o aquecimento global está afetando todas as regiões da Terra, com muitas mudanças se tornando irreversíveis".


O relatório tem cerca de 3.500 páginas, representa anos de pesquisa sobre o tema, foi escrito por mais de 200 cientistas de mais de 60 países e cita mais de 14.000 estudos individuais.



Humanos estão aquecendo o planeta

Foto: Piyush Priyank


Este relatório vai mais longe do que qualquer relatório climático anterior do IPCC ao colocar a culpa pelo aquecimento global diretamente nas emissões de gases de efeito estufa feita pelos humanos.


Não é mais uma questão de mudança climática "natural versus causada pelo homem". A dependência da sociedade de combustíveis fósseis é a razão pela qual o planeta já aqueceu 1,2 graus Celsius – cada parte disso por meio da emissão de gases de efeito estufa, como dióxido de carbono e metano.


O aquecimento está acontecendo ainda mais rápido do que os cientistas pensavam anteriormente, e as últimas projeções nos mostram atingindo ou ultrapassando 1,5 grau – um limiar chave que os cientistas dizem ser fundamental ficar abaixo – nas próximas uma ou duas décadas.



Única maneira de parar o aquecimento é acabar com as emissões de gases de efeito estufa: quanto mais demora, mais quente fica.

Foto: Maxim Tolchinskiy


Assim como o relatório claramente culpa a poluição do carbono pelo aumento das temperaturas, também está claro que a única maneira de desacelerar e, eventualmente, reverter o aquecimento é reduzir as emissões de gases de efeito estufa a zero.


Evitar 1,5 grau de aquecimento é quase impossível, mas ainda podemos continuar aquecendo em torno desse limite crítico e evitar o agravamento dos impactos decorrentes da aproximação e dos 2 graus de aquecimento.


Evitar esses impactos acarretará cortes significativos nas emissões de gases de efeito estufa – se adotados imediatamente. Se as emissões continuarem a aumentar, o mundo atingirá 2 graus de aquecimento – possivelmente antes de 2050 – e atingirá 3 graus antes do final do século.


Os impactos climáticos são graves em todas as regiões do planeta e irão piorar.

Foto: Ross Stone


Aqui estão alguns impactos específicos e o que o relatório tem a dizer sobre eles:

  • Ondas de calor: ondas de calor extremas, como a mortal que ocorreu no noroeste do Pacífico e no Canadá no início deste verão, já são cerca de cinco vezes mais prováveis ??de ocorrer com nosso aquecimento atual de pouco mais de 1 grau Celsius. Com aquecimento de 2 graus, essa frequência aumenta para 14 vezes mais probabilidade de ocorrer. As ondas de calor estão ficando mais quentes e, com 2 graus de aquecimento, as temperaturas mais altas chegariam a quase 3 graus Celsius (5 graus Fahrenheit) mais altas do que as ondas de calor anteriores.

  • Secas: A mudança climática está aumentando a frequência e a gravidade das secas – como a atual seca que assola o oeste dos Estados Unidos. Secas severas que costumavam ocorrer em média uma vez por década agora estão ocorrendo cerca de 70% mais freqüentemente. Se o aquecimento continuar a 2 graus, essas secas ocorrerão até três vezes mais do que ocorrem atualmente.

  • Inundações: As mudanças climáticas estão intensificando o ciclo da água em ambos os lados. Embora uma evaporação mais intensa leve a mais secas, o ar mais quente pode reter mais vapor de água para produzir chuvas extremas (como vimos acontecer de forma dramática na Europa Ocidental e na China neste verão). Em média, a frequência de inundações já aumentou cerca de 30% e contêm cerca de 7% a mais de água.

  • Furacões: Os furacões estão ficando mais fortes e produzindo mais chuva à medida que as temperaturas globais aumentam. Já foi observado que, globalmente, um percentual maior de tempestades está atingindo as categorias mais altas (categorias 3, 4 e 5) nas últimas décadas. Espera-se que isso continue à medida que as temperaturas sobem.

  • Aumento do nível do mar: O nível do mar está aumentando em todo o mundo. Isso está piorando as enchentes da maré alta e as tempestades. Em 2100, segundo o relatório, as inundações costeiras que ocorrem uma vez a cada século ocorrerão, pelo menos, uma vez por ano em mais da metade das costas de todo o mundo.

  • "Whiplash" do clima: A mudança climática não está apenas aumentando a severidade do clima extremo, está interrompendo os padrões naturais, levando ao "whiplash do clima", que são oscilações violentas entre extremos secos e úmidos. Isso foi experimentado recentemente na Califórnia, com "rios atmosféricos" causando inundações destrutivas em um ano e secas extremas causando escassez de água logo no ano seguinte.


Algumas mudanças são irreversíveis – mesmo nos cenários de emissões mais baixas.

Foto: Joanne Francis


O aquecimento que já ocorreu gerou mudanças que persistirão mesmo que as emissões parem e as temperaturas se estabilizem, relata o estudo.


Os mantos de gelo continuarão derretendo por centenas a milhares de anos, de acordo com o relatório, o que fará com que o nível do mar suba bem e permaneça mais alto por milênios.


Prevê-se que o nível do mar suba de 2 a 3 metros em 2300, mesmo se o aquecimento for mantido abaixo de 2 graus, mas pode chegar a 5 a 7 metros ou mais se o aquecimento continuar inabalável.



Emissão de gás metano.

Foto: Lomig


Este relatório aponta para outro vilão na crise climática – o metano – um gás que contém mais de 80 vezes o poder de aquecimento do planeta no curto prazo.


Dados mais recentes mostram que os índices de metano na atmosfera está disparando e atualmente é o maior em 800 mil anos, em grande parte por causa de uma combinação de vazamentos de gás natural e agricultura e pecuária insustentáveis.


Considerando seu enorme potencial de aquecimento e sua vida útil mais curta na atmosfera em comparação com o dióxido de carbono, o controle do metano poderia reduzir significativamente o aquecimento global nas próximas décadas.


O relatório do IPCC, embora extensos em ciência e exaustivos em escopo e detalhes, contêm muito pouco na sugestão de políticas para remediar a crise climática. Este relatório, por exemplo, é puramente os fatos científicos e as previsões para o futuro.


Os principais relatórios do IPCC que virão no próximo ano entrarão em mais detalhes sobre impactos específicos e formas de mitigá-los, mas antes disso, os líderes globais se reunirão em uma conferência climática liderada pela ONU em novembro, no que está sendo anunciado como a reunião de política climática mais importante desde o Acordo de Paris, que foi assinado em 2015.


"Como o relatório de hoje deixa claro, não há tempo para atrasos e nem espaço para desculpas", declarou o secretário-geral da ONU esta manhã, enquanto implorava aos líderes do governo que garantissem que a COP26 fosse um sucesso para "evitar a catástrofe climática".


Fonte: CNN Brasil





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